A Agroecologia é a base da nossa forma de ver o mundo. É uma maneira diferente de pensar a produção e a distribuição de alimentos, tornando-a mais humana e livre de veneno. A agroecologia trabalha a agricultura em harmonia com o meio ambiente, integrando soluções sustentáveis em suas ações. Através dela, conseguimos comida de verdade, água limpa, ar puro e justiça social para todes.
A humanidade cultiva alimentos há mais de 12 mil anos e apenas nas últimas décadas utilizou agrotóxicos para tal. O veneno é utilizado para produzir commodities e não os alimentos que consumimos. Quando o lucro está em jogo, pouco caso se faz da saúde humana e da natureza. Os agrotóxicos despejados sobre os latifúndios se espalham pela terra, infectam águas subterrâneas e mananciais, em uma escala gigantesca. Mesmo sem consumir comida fruto de plantações envenenadas, essas substâncias estão presentes de forma invisível em nossa água.
A produção orgânica, sem o uso de aditivos químicos, é peça chave para pensar os alimentos que chegam à nossa mesa. Essa é uma estratégia possível, já praticada em nosso estado. Atualmente, cerca de 70% dos alimentos que consumimos são produzidos pela agricultura familiar. O agronegócio em larga escala, ao contrário do que se pensa, não é responsável por produzir nossa comida - seus produtos são a soja e o milho transgênicos, destinados à exportação ou a se tornar ração a ser consumida pelo gado da pecuária. A verdadeira comida que chega à nossa mesa provém da agricultura em menor escala, fruto do trabalho de pequenos produtores.
O respeito ao meio ambiente é central para o conceito de agroecologia. Pensa-se a produção dos alimentos de modo a gerar o menor impacto possível, com princípios e práticas enraizadas nos modos de vida dos camponeses, de povos indígenas e de comunidades tradicionais. São utilizadas estratégias de cultivo que não exaurem o solo, evitam poluir os entornos e buscam reaproveitar os resíduos orgânicos - através da compostagem, por exemplo.
A agroecologia, portanto, é um caminho para o equilíbrio entre o nosso modo de vida e o meio ambiente, incentivando a valorização de pequenos produtores, a soberania alimentar e a integração entre o campo e a cidade. Ela fornece estratégias para o cultivo de alimentos dentro do ambiente urbano, através de hortas comunitárias, em escolas, hospitais e outros espaços de interesse público. Quando aliadas à gestão de resíduos, por meio da reciclagem e da compostagem de resíduos orgânicos, são formas eficientes de produzir comida sem sair do espaço urbano.
Por não depender do deslocamento dos alimentos produzidos ao longo de grandes distâncias, a agroecologia - sob a forma da agricultura urbana - serve inclusive como saída para momentos de crise, sejam eles ambientais, sociais ou econômicos. Ela pode auxiliar as populações na reconstrução dos territórios afetados e combater a possível escassez de alimentos inerente a períodos de tumulto.
Com o objetivo de integrar a agroecologia à organização do espaço onde vivemos, aprovamos em Florianópolis, enquanto Mandato Agroecológico, várias leis pensadas para a construção de uma cidade ecologicamente equilibrada e socialmente justa. A principal delas é a Política Municipal de Agroecologia e Produção Orgânica, que também foi nossa primeira lei aprovada, em 2018. Essa lei tem como objetivo articular políticas públicas de transição agroecológica e produção orgânica, contribuindo com o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população. Ela serve como base para iniciativas posteriores pautadas na agroecologia em Florianópolis.
Pensando nos danos causados pelo uso de agrotóxicos na agricultura convencional à nossa saúde, aprovamos também uma Lei que institui a Ilha de Santa Catarina como território Livre de Agrotóxicos. Pioneira no país, ela proíbe a aplicação e o armazenamento de agrotóxicos na parte insular de Florianópolis, e serviu de inspiração para legislações elaboradas em outras cidades.
Além dessas, aprovamos também uma lei essencial para a proteção ao meio ambiente. É a Lei de proteção às abelhas sem ferrão (melíponas), que pode ser implantada no estado todo. Essas abelhas, além de não representarem ameaça às pessoas, são essenciais para a manutenção da biodiversidade, a produção de alimentos e a vida humana, assumindo grande importância na manutenção da vida no planeta. Sua principal função é a polinização, mecanismo fundamental para a sobrevivência de inúmeras endêmicas do estado.
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